quinta-feira, 26 de junho de 2014

Ainda sobre futebol, para variar....

Apesar do pouco saudável clima de fanatismo "nacionalista" que rodeia sempre estes eventos - e na América Latina, então, nem imaginam - ou mesmo por causa disso, não resisto a mais um comentariozinho, que prevejo seja o último.

Hoje, a Sport TV, principal canal desportivo do Brasil, a propósito do grupo de que Portugal faz parte, reportava que os selecionadores da Alemanha e dos EUA, ambos alemães, são amigos pessoais de longa data, até porque o segundo foi o assistente técnico do primeiro na seleção alemã.

Mais dizia este canal que Jurgen Klinsman (selecionador dos EUA) fez questão, logo que entrou em funções,  de reforçar a seleção norte-americana com 5 jogadores alemães da sua confiança pessoal.

"Teremos então amanhã um jogo de compadres" - concluia ironicamente o canal brasileiro.

Curioso e revelador que os media portugueses - salvo melhor informação, pois não posso segui-los neste momento - não frisassem este importante dado.

Parecem mais preocupados em "fazer a folha" e "incinerar" o selecionador Paulo Bento e a própria seleção representativa do seu  país na Copa, enquanto continuam a glorificar a imagem do CR7, talvez porque há contratos comerciais envolvendo também os media - caso da publicidade com ele.

Vai uma apostinha que o resultado do EUA-Alemanha vai ser o mais conveniente para ambos passarem?

O que não é difícil. Portugal teria que golear  o Ghana por 5-0 e esperar que a Alemanha vencesse os EUA por 1-0, ou outro resultado com a mesma soma cruzada de golos. Mesmo que Portugal goleie, se a Alemanha empatar com os EUA, ambos são apurados e Portugal fica de fora.

Somado isto ao facto do árbitro tudo ter feito no primeiro jogo, Portugal-Alemanha, para abater Portugal logo de início, começamos a entender o puzzle.

É o mundial pefeito estilo FIFA onde quem tem dinheiro tem as alavancas. E será assim cada vez mais, não nos iludamos...

Nota (a posteriori): Completamente confirmada a análise acima.  O jogo EUA-Alemanha foi morno, quase não houve remates na 1ª parte, e só na segunda, quando o Gana empatava o jogo com Portugal, a Alemanha acelerou e se permitiu marcar um golo aos EUA, sabendo perfeitamente que isso não prejudicava o "amigo americano". Vergonhoso.

domingo, 22 de junho de 2014

Falemos então de futebol...

  
Seleção portuguesa de futebol, 2014
Por muito que o futebol já não seja um desporto, mas antes um espetáculo televisivo e um negócio que movimenta biliões, onde a corrupção campeia (nas arbitragens, nos offshores para fuga aos impostos, no tráfico sobre os vários agentes), a verdade é que é difícil ficar-lhe indiferente.

Principalmente porque milhões de pessoas, países inteiros, vivem o futebol como se dele dependesse este mundo e o outro. E porque é um jogo visualmente atrativo, mesmo com as manipulações notórias nas arbitragens e na trapaça do sorteio dos grupos para este Mundial.

Mas falemos das seleções. Será que representam efetivamente os países, como faz supor o fanatismo dos adeptos e o fervor com que acompanham o hino como se daqueles 11 homens em calções ganhando "uma grana preta" dependesse o futuro da nação?

Mesmo que saibamos que não, a imagem do país, para o bem e para o mal, é atingida, pelo menos para os biliões de seguidores do futebol no mundo.

É evidente que este tipo de eventos serve fins dentro do sistema.

As opiniões públicas são manipuladas e arrastadas para o fanatismo do futebol e o esquecimento do resto. As grandes marcas fazem campanhas gigantescas explorando ao máximo o evento. Desde Nikes, Adidas, Coca-Colas, MacDonalds, marcas nacionais, até ao mais ínfimo bar ou restaurante, não há quem não use a "copa" para se potencializar.


Este Mundial tem-se caracterizado por aspectos já comuns aos anteriores e por outros mais específicos. Um destes é o paradoxo da forte contestação popular à organização da Copa coexistindo com o fervor pela seleção, que no Brasil assume contornos de verdadeira religião.

ANÁLISE DA PARTICIPAÇÃO PORTUGUESA

Esta participação  acaba por refletir o estado em que o País se encontra. Embora não se possa fazer um paralelismo direto entre futebol e sociedade, alguns aspectos são óbvios.

Num país que estava há pouco em  4º lugar no ranking das seleções (e perto disso no dos clubes), a seleção é apenas um grupo desconexo de personalidades, clubismos e egos inflados de jogadores e dirigentes que põem interesses pessoais ou de grupos acima dum suposto interesse nacional.

Viu-se no jogo contra os EUA. Perante uma equipa americana de 2ª categoria no futebol mundial, se Portugal jogasse com crença e foco no coletivo teria goleado facilmente. Mas após marcar o 1º golo, o grupo recua e passa a defender o resultado - ao contrário de seleções menores como o Gana que se batem sempre de peito aberto, mesmo contra uma Alemanha - Paulo Bento pôs a equipa a jogar para um CR7 fora de forma e acabou por conseguir apenas o empate.

Alguns detalhes:

Paulo Bento - Treinador sério mas longe de ser inovador, parece subordinado aos "egos" da equipa, em particular CR7 e o núcleo duro tradicional, não foi capaz da necessária renovação para formar um grupo que representasse o melhor futebol luso.

Cristiano Ronaldo - Fora de forma após as lesões, ainda convencido de que tudo gira à sua volta, afirmou preto no branco "eu estou primeiro e a seleção depois"  - o que, mesmo estando a referir-se à sua integridade física, é algo que não se diz em público e sobretudo daquela forma. Salvo no último golo, CR7 não teve papel relevante no jogo e perdeu muitas  bolas divididas.

Nani - Outro jogador fora de forma após longo tempo sem jogar, e outro ego inchado - falhou passes clamorosos, é verdade que marcou mas também perdeu bolas decisivas.

Beto - Voluntarioso, mostra a típica mentalidade FCP de que se pode passar por cima de tudo desde que "venha a nós". Por acaso não comprometeu, mas teve uma saída em falso que só por milagre de Ricardo Costa (aliás, também ex-FCP) não foi golo.

Raúl Meireles - Outro jogador da escola portista, que se tornou meio hippie após a passagem por Inglaterra, ostenta um visual ridículo, próprio dum ego inflado e desconexo, de quem perdeu objectivos. Jogar neste nível implica uma atitude de combate que se exprime no geral, mas também no visual.

Pepe - Além da muito discutível utilização de estrangeiros naturalizados desvirtuar o carácter duma seleção, Pepe nem estava em forma e o seu currrículo conflituoso foi habilmente usado por quem quis prejudicar a equipa, expulsando-o injustamente contra a Alemanha.

De referir finalmente que o uso de jogadores medianos como Postiga, João Pereira, André Almeida, Éder, Miguel Veloso, Bruno Alves, Hugo Almeida, em detrimento dum William Carvalho, dum Rúben Amorim ou dum Quaresma, reflete o conformismo e a falta de visão que hoje caracteriza algumas mentes portuguesax.

Mas reconheça-se que o trabalho do selecionador é dificultado por os grandes clubes não priorizarem o que é nacional, bloqueando o despontar de novos bons jogadores para a seleção.

Assim, é provável que Portugal saia sem glória deste Mundial.

E nem se pode queixar muito da arbitragem, pois se no primeiro jogo o juíz foi ostensivamente pró-Alemanha, o mesmo não ocorreu contra os EUA em que a culpa recai exclusivamente no grupo português.



quinta-feira, 5 de junho de 2014

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Revisitando Pipa

Uma passagem por Pipa - Rio Grande do Norte -  em dois breves dias, alguns anos depois.

A paisagem continua idílica, esfusiante do verde tropical. O mar continua calmo, límpido e habitado presumivelmente por golfinhos que se avistam se houver sorte.

Mas o sítio, que cultiva vagamente aquela imagem hippie (um tanto deslocada nestes  tempos materialistas), parece meio abandonado.

"Época baixa" - justifica secamente a única e mal preparada empregada (nitidamente de ascendência potiguara, tribo original da região) do resort  belissimo, mas um tanto decadente.

A resposta não foi convincente.

Baía dos golfinhos, Pipa ao fundo,
disfarçada no meio da vegetação.
Plano grande: vista geral de Pipa, indo para Tibaú do Sul,
sede do município;
Planos menores: 1- Resort Costa Sol;
2 - T-shirts alusivas a Pipa;
3 - Letreiro típico em lojinha;
4 - Rua lateral de comércio, semideserta;
5 - À saída da escola pública
"Eu, encantada com Pipa? Nem pensar! Isso é para quem passa cá sómente uns dias" - declarava em contraste a lisboeta educada nos salesianos do Estoril e em Paris que "aterrou" ali para trabalhar no restaurante (às moscas) da mãe, trocado por outro no Algarve, demasiado movimentado para gerir sózinha após a morte do marido.

Neste, de Pipa, comia-se há uns anos atrás uma bela paella quando o dono era um espanhol que, pelos vistos, foi esperto e o empandeirou a tempo...

A lisboeta descobriu como num pesadelo que, num raio de quase 100 km até Natal, não há uma escola de qualidade, nem médicos especialistas para o filho diabético, nem outros serviços básicos ou acessibilidades rápidas em caso de urgência.

A verdade passa mais por esta versão, apesar da moça precisar ainda dumas lições de vida em latitudes não europeias.

Mas Pipa é de facto um caso típico de falta de aposta a sério do Estado e dessa crença, caracteristica do "Novo Mundo", de que basta deixar tudo ao sabor da natureza e da "inicativa privada".

Até chegar à BR (via rápida), que percorre o estado, são 30 km meio esburacados, mal sinalizados e às curvas. Estrada directa de Pipa para Natal (capital do RN) até existe. Mas já a fiz e... esqueçam.

Pipa - como muitas outras praias brasileiras - podia competir com paraísos tropicais como os Hawais, as Rep Dominicanas, os Balis ou as Seychelles. Bastava investimento a sério do Estado em parceria com grupos especializados do turismo.

Assim é que não me parece. Preços altos nos restaurantes, serviço fraco, gente local mais "folgada" que preparada. Por mim, que vinha fazendo a maior propaganda do idílico sítio, das suas caipirinhas, das dezenas de lojinhas e pousadas imaginativas, do ambiente relaxado e feliz, depois desta nova experiência, confesso que vou esquecer o local por uns bons tempos. Até que autoridades ou particulares façam uma mudança estrutural.

Não é nada de pessoal, garanto, até porque o meu propósito era relaxar do atual superstress português neste regresso ao Brasil, o que  foi plenamente atingido. Trata-se apenas dum olhar objetivo.

E afinal, há muitas outras Pipas por descobrir neste Brasilzão.