domingo, 6 de julho de 2014

Revisitando o eterno BREL

Um intérprete de Leonard Cohen classificava Jacques Brel como um homem único e manifestava a certeza de que ele inspirou (também) o grande autor canadiano.

Brel é daqueles casos raros que surgem uma vez em várias décadas. Apesar da vastidão do universo musical  em que se insere, Brel sequer será comparável aos  outros criadores francófonos da sua época - salvo talvez uma Edit Piaf, da geração colada à sua.

Le Plat Pays - uma das suas grandes canções -  é uma oração à terra onde nasceu e que nunca lhe devolveu (em vida) uma fração do que Brel lhe deu sem precisar de o declarar.

Nascido numa família católica da metade neerlandesa da Bélgica, Jacques identificava-se com a francofonia, divergindo nisso também da sua família que o queria envolvido nos negócios do clã.

Casado e pai de três filhas, foi sobretudo fiel ao seu obcessivo amor pela vida e pela emoção sincera posta em tudo o que fazia.

Escolhendo Paris para início duma carreira multifacetada, sobrevive no início  dando aulas de violão até que ao fim de anos é convidado para um espetáculo secundário no mítico Olimpia.

Ganha rapidamente o reconhecimento internacional, é interpretado por grandes figuras do music hall como David Bowie, que gravam Amsterdam, Quand On N' a Que l' Amour e outras suas músicas. Vende milhões de discos.

Fez muito teatro musical e cinema, mas o seu brilho está na voz, e nessa combinação perfeita de música, poesia e performance em palco, onde se lhe sente em cada palavra a entrega total à emoção à flor da pele.

Já doente de cancro no pulmão, pilota o seu pequeno avião numa longa viagem até às ilhas Marquesas, onde se refugia por repulsa ao comércio que tomara a vida artística europeia, encontrando ainda forças para ajudar a população indígena das Marquesas no transporte aéreo.

Volta apenas à Europa para tratamentos. Morre em 1978 num hospital de Bobigny, França. Está sepultado nas Marquesas, perto de Paul Gauguin. 

Mais informações biográficas AQUI


SUGESTÃO: Ponha o vídeo a seguir em écrã máximo para observar bem a expressão do artista. 
Após ouvir o Plat Pays, não deixe de ouvir Ne Me Quitte Pas / Não me abandones, de que Brel é também autor - uma das canções mais dilacerantes jamais escrita, reinterpretada  por dezenas de artistas em todo o mundo e que até hoje continua a sensibilizar milhões de pessoas. Uma canção que, surpreendentemente, Brel disse não ser sobre o amor, mas "sobre a cobardia humana".


LE PLAT PAYS - O PAÍS RASO
Letra

Português / Francês

Com o Mar do Norte por último terreno vago 
Avec la mer du Nord pour dernier terrain vague
E as vagas de dunas para conter as vagas 
Et des vagues de dunes pour arrêter les vagues
E esquivos rochedos que as marés recobrem 
Et de vagues rochers que les marées dépassent
Não deixando jamais o coração a descoberto  
Et qui ont à jamais le cœur à marée basse
Com essa infinidade de brumas a vir 
Avec infiniment de brumes à venir 
Com o vento oeste, escutai-o a possuir 
Avec le vent d´ouest écoutez-le tenir
O país raso que é o meu / Le plat pays qui est le mien.
 

Com suas catedrais por únicas montanhas
Avec des cathédrales pour uniques montagnes 
E os negros campanários / Et de noirs clochers
Como mastros tamanhos  / Comme mâts de cocagne 
Onde diabos de pedra desfiam as nuvens 
Où des diables en pierre décrochent les nuages 
Com o fio dos dias por única viagem
Avec le fil des jours pour unique voyage 
E caminhos de chuva por único Boa Noite
Et des chemins de pluie pour unique bonsoir
Com o vento oeste escutai-o a querer / Avec le vent d´ouest écoutez-le vouloir 
O país raso que é o meu / Le plat pays qui est le mien.
 

Com um céu tão baixo que um canal se perdeu
Avec un ciel si bas qu´un canal s´est perdu
Com um céu tão baixo que é preciso humildade 
Avec un ciel si bas qu´il fait l´humilité  
Com um céu tão escuro que um canal se enforcou 
Avec un ciel si gris qu'un canal s' est pendu
Com um céu tão escuro que é preciso piedade
Avec un ciel si gris qu´il faut lui pardonner
Com o vento norte que vem para rasgar 
Avec le vent du nord qui vient s´écarteler 
Com o vento norte escutai-o a fraturar 
Avec le vent du nord écoutez-le craquer
O país raso que é o meu / Le plat pays qui est le mien
 

Com essa Itália que descerá o Escalda 
Avec de l´Italie qui descendrait l´Escaut
Com Frida-a-loira quando ela se torna Margot 
Avec Frida la Blonde quand elle devient Margot 
Quando os filhos de novembro / Quand les fils de novembre
Nos revisitam em maio  / Nous reviennent en mai
Quando a planície fumegante / Quand la plaine est fumante
Treme sob julho / Et tremble sous juillet
 

Quando o vento abre ao riso / Quand le vent est au rire, 
Quando o vento abre ao trigo / Quand le vent est au blé
Quando o vento abre ao sul / Quand le vent est au sud
Escutai-o cantarÉcoutez-le chanter
O país raso que é o meu / Le plat pays qui est le mien.




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