terça-feira, 8 de julho de 2014

Lou Reed - obrigatório ouvir


  1. Em baixo, a letra, conforme o CD original "New York", 1989. Depois, a minha tradução, como sempre feita com liberdade poética. No caso, fácil até, dado Lou ser muito prosaico, investindo sobretudo na ácida sironia social e dos costumes. 

We who have so much to you who have so little to you who don't have anyhing at all * We who have so much more than any one man does need and you who don't have anything at all * Does anybody need another million dollar movie * Does anybody need another million dollar star * Does anybody need to be told over and over * Spitting in the wind comes back at you twice as hard * Strawman going straight to the devil * Strawman going straight to hell * Does anyone really need a million dollar rocket * Does anyone need a 60.000 dollar car * Does anyone need another President or the sins of Swaggart parts 6. 7. and 9. [link] * Does anyone need another politician caught with his pants down and money sticking in his hole * Does anybody need another racist preacher spittin ' in the wind can only do you harm * Strawman going straight to the devil * Strawman going straight to hell * Does anyone need another faulty shuttle blasting off to the Moon, Venus or Mars * Does anyone need another self-righteous rock and roll singer whose nose he says has led him straight to God * Does anyone need yet another blank skyscraper * If you 're like me I'm sure a minor miracle will do * A flaming sword or maybe a gold ark floating up the Hudson * When you spit in the wind it comes right back in two


HOMEM-FRAUDE

Nós que temos tanto, para ti que tens tão pouco, para ti que não tens absolutamente nada * Nós que temos muito mais do que qualquer homem precisa, e vocês que não têm absolutamente nada * Alguém precisa doutro filme de um milhão de dólares * Alguém precisa doutra pop-star de milhões de dólares * Alguém precisa que lhe digam repetidamente Cospes contra o vento e é-te devolvido mais forte e a dobrar * Homem-fraude vais direto pró diabo * Homem-fraude vais direito ao inferno * Será que alguém precisa realmente dum foguetão de milhões de dólares * Alguém precisa dum carro de 60.000 dólares * Alguém precisa doutro presidente ou dos pecados de Swaggart partes 6. 7. e 9. [link explicativo] * Alguém precisa doutro político apanhado com as calças em baixo e dinheiro escondido no buraco * Será que alguém precisa doutro pregador racista a cuspir ao vento, isso só pode fazer-te mal * Homem-fraude vais direto pró diabo * Homem-fraude vais direito ao inferno * Alguém precisa doutro foguetão defeituoso enviado à Lua, Vênus ou Marte * Alguém precisa doutro cantor evangélico de rock & roll que diz que o seu nariz o liga diretamente a Deus * Alguém precisa de mais um arranha-céus tipo caixote * Se tu és como eu, tenho a certeza que podemos fazer um pequeno milagre * Uma espada em chamas ou talvez uma arca de ouro flutuando no rio Hudson * Quando cospes contra o  vento ele devolve-to a dobrar.


domingo, 6 de julho de 2014

Revisitando o eterno BREL

Um intérprete de Leonard Cohen classificava Jacques Brel como um homem único e manifestava a certeza de que ele inspirou (também) o grande autor canadiano.

Brel é daqueles casos raros que surgem uma vez em várias décadas. Apesar da vastidão do universo musical  em que se insere, Brel sequer será comparável aos  outros criadores francófonos da sua época - salvo talvez uma Edit Piaf, da geração colada à sua.

Le Plat Pays - uma das suas grandes canções -  é uma oração à terra onde nasceu e que nunca lhe devolveu (em vida) uma fração do que Brel lhe deu sem precisar de o declarar.

Nascido numa família católica da metade neerlandesa da Bélgica, Jacques identificava-se com a francofonia, divergindo nisso também da sua família que o queria envolvido nos negócios do clã.

Casado e pai de três filhas, foi sobretudo fiel ao seu obcessivo amor pela vida e pela emoção sincera posta em tudo o que fazia.

Escolhendo Paris para início duma carreira multifacetada, sobrevive no início  dando aulas de violão até que ao fim de anos é convidado para um espetáculo secundário no mítico Olimpia.

Ganha rapidamente o reconhecimento internacional, é interpretado por grandes figuras do music hall como David Bowie, que gravam Amsterdam, Quand On N' a Que l' Amour e outras suas músicas. Vende milhões de discos.

Fez muito teatro musical e cinema, mas o seu brilho está na voz, e nessa combinação perfeita de música, poesia e performance em palco, onde se lhe sente em cada palavra a entrega total à emoção à flor da pele.

Já doente de cancro no pulmão, pilota o seu pequeno avião numa longa viagem até às ilhas Marquesas, onde se refugia por repulsa ao comércio que tomara a vida artística europeia, encontrando ainda forças para ajudar a população indígena das Marquesas no transporte aéreo.

Volta apenas à Europa para tratamentos. Morre em 1978 num hospital de Bobigny, França. Está sepultado nas Marquesas, perto de Paul Gauguin. 

Mais informações biográficas AQUI


SUGESTÃO: Ponha o vídeo a seguir em écrã máximo para observar bem a expressão do artista. 
Após ouvir o Plat Pays, não deixe de ouvir Ne Me Quitte Pas / Não me abandones, de que Brel é também autor - uma das canções mais dilacerantes jamais escrita, reinterpretada  por dezenas de artistas em todo o mundo e que até hoje continua a sensibilizar milhões de pessoas. Uma canção que, surpreendentemente, Brel disse não ser sobre o amor, mas "sobre a cobardia humana".


LE PLAT PAYS - O PAÍS RASO
Letra

Português / Francês

Com o Mar do Norte por último terreno vago 
Avec la mer du Nord pour dernier terrain vague
E as vagas de dunas para conter as vagas 
Et des vagues de dunes pour arrêter les vagues
E esquivos rochedos que as marés recobrem 
Et de vagues rochers que les marées dépassent
Não deixando jamais o coração a descoberto  
Et qui ont à jamais le cœur à marée basse
Com essa infinidade de brumas a vir 
Avec infiniment de brumes à venir 
Com o vento oeste, escutai-o a possuir 
Avec le vent d´ouest écoutez-le tenir
O país raso que é o meu / Le plat pays qui est le mien.
 

Com suas catedrais por únicas montanhas
Avec des cathédrales pour uniques montagnes 
E os negros campanários / Et de noirs clochers
Como mastros tamanhos  / Comme mâts de cocagne 
Onde diabos de pedra desfiam as nuvens 
Où des diables en pierre décrochent les nuages 
Com o fio dos dias por única viagem
Avec le fil des jours pour unique voyage 
E caminhos de chuva por único Boa Noite
Et des chemins de pluie pour unique bonsoir
Com o vento oeste escutai-o a querer / Avec le vent d´ouest écoutez-le vouloir 
O país raso que é o meu / Le plat pays qui est le mien.
 

Com um céu tão baixo que um canal se perdeu
Avec un ciel si bas qu´un canal s´est perdu
Com um céu tão baixo que é preciso humildade 
Avec un ciel si bas qu´il fait l´humilité  
Com um céu tão escuro que um canal se enforcou 
Avec un ciel si gris qu'un canal s' est pendu
Com um céu tão escuro que é preciso piedade
Avec un ciel si gris qu´il faut lui pardonner
Com o vento norte que vem para rasgar 
Avec le vent du nord qui vient s´écarteler 
Com o vento norte escutai-o a fraturar 
Avec le vent du nord écoutez-le craquer
O país raso que é o meu / Le plat pays qui est le mien
 

Com essa Itália que descerá o Escalda 
Avec de l´Italie qui descendrait l´Escaut
Com Frida-a-loira quando ela se torna Margot 
Avec Frida la Blonde quand elle devient Margot 
Quando os filhos de novembro / Quand les fils de novembre
Nos revisitam em maio  / Nous reviennent en mai
Quando a planície fumegante / Quand la plaine est fumante
Treme sob julho / Et tremble sous juillet
 

Quando o vento abre ao riso / Quand le vent est au rire, 
Quando o vento abre ao trigo / Quand le vent est au blé
Quando o vento abre ao sul / Quand le vent est au sud
Escutai-o cantarÉcoutez-le chanter
O país raso que é o meu / Le plat pays qui est le mien.